A divisão social do trabalho e a opressão feminina
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Fonte: Lefty Cartoons. |
Poucos dos problemas e contradições existentes hoje com relação as desigualdades entre homens e mulheres tem origem biológica. Na realidade os problemas de gênero tem uma origem social e cultural, o patriarcado que conta com mais de 5 milênios nos constituiu como uma sociedade machista e excludente. Patriarcado é o modo de vida onde quem mantém mais direitos sobre os filhos aos pais, ou seja, os homens, e isso os dá todos os demais direitos na divisão social do trabalho.
O mundo do trabalho não está isolado desta sociedade patriarcal. Todas as sociedades sempre tiveram uma divisão social do trabalho, o que significa que o trabalho enquanto produção e reprodução da existência humana fora dividido para facilitar a manutenção e a sobrevivência da espécie. Mas essa divisão nem sempre foi baseada no gênero, a historiadora Lerner nos lembra que em algumas sociedades as mulheres eram responsáveis pela caça de focas mesmo estando grávidas, o que eram trabalho que requeria força e agilidade (características que hoje são consideradas masculinas). Essa mesma historiadora nos conta que a divisão do trabalho passou a ser sexual na medida em que as mulheres precisavam amamentar sua prole, e como as crianças fazem barulho e choram, não era indicado que essas mulheres participassem da caça. Sabe-se que o trabalho da caça requer estratégia e silêncio, e que nem sempre traz frutos ou melhor presas.
As mulheres como precisavam amamentar as crianças, acabaram ficando com as funções em que podiam ter as crianças por perto, como a coleta. É importante ressaltar que as mulheres nas sociedades caçadoras e coletoras, contribuíram com quase 70% da alimentação para as comunidades, isso porque diferentemente da caça a coleta sempre traz resultados.
Com o avanço das sociedades e a permanência das mulheres nessas funções relacionadas ao cuidado das crianças e a coleta, os homens tiveram mais tempo ocioso para construir mapas mentais e discutir temas sociais e políticos, já que existe muito tempo livre na espera da caça.
Houve uma grande mudança neste período, que significou a uma perda histórica das mulheres: a origem da propriedade privada. Nas sociedades que viviam de caça e coleta não havia propriedade privada, todos viviam em comunhão. As famílias não eram monogâmicas (união entre duas pessoas) mas poligâmicas (vários casais se inter-relacionando). Como a ascendência era conhecida apenas pela mãe, isso dava a mulher o direito sobre os filhos e a família.
Quando a humanidade passou a desenvolver a agricultura e o pastoreio, uns passaram a privar os outros das terras e animais, inclusive umas tribos escravizando outras, criando a primeira divisão entre classes sociais. Surgiu a necessidade dos pais conhecerem seus filhos, para passar sua herança aos seus descendentes. Com isso, foi criada a família monogâmica e passou a reinar o patriarcado. Junto a família monogâmica, surgiram seus irmãos gêmeos: o adultério masculino e a prostituição feminina.
“O desmoronamento do direito materno foi a grande derrota histórica do sexo feminino em todo mundo. O homem apoderou-se também da direção da casa; a mulher viu-se degradada, convertida em servido, em escrava da luxúria do homem, em simples instrumento de procriação.” (Engels)
Muitos anos depois vivenciamos uma sociedade em que, o trabalho de reprodução é totalmente vinculado às mulheres e o trabalho de produção é direcionado aos homens. Observa em quê trabalho de reprodução diz respeito a todas as atividades referentes a manutenção da vida e a reprodução da espécie, as mulheres passaram a ser vistas principalmente na sociedade moderna e pós-moderna como úteros, responsáveis pela reprodução da espécie que é também reprodução da força de trabalho, e como responsáveis por todas as atividades domésticas que permitem a manutenção da vida humana e a continuidade do trabalho de produção dos homens, ou seja, as mulheres são vistas como responsáveis pelos cuidados com filho e com a casa para que os homens continuem suas funções no mercado de trabalho.
Os homens, ao contrário, cresceram inseridos nessa sociedade em que considera-se que a masculinidade esteja relacionada a força física e a capacidade de raciocinar abandonando todos os sentimentos e as habilidades socioemocionais. Com isso evidenciamos que na sociedade em que vivemos, ocidental-latino-americana-brasileira, existe uma divisão sexual do trabalho, em que as atividades são divididas, diferenciadas e classificadas de acordo com o sexo.
As crianças aprendem desde muito cedo que existem profissões consideradas masculinas e profissões consideradas femininas, as masculinas geralmente envolvem força física ou capacidade racional e as femininas geralmente envolvem cuidado com as pessoas e habilidades emocionais. É evidente que a divisão sexual do trabalho ela ocorre em todo o mundo, mas de maneiras diversas, a depender da cultura e da sociedade em que se está inserido.
Um trabalho ou uma função que no Brasil é considerado masculino, pode ser considerado feminino em outro lugar. Assim como hoje a maioria dos Professores são mulheres, durante muito tempo as mulheres não puderam nem cursar uma graduação.
Então quando falamos em divisão sexual do trabalho, estamos evidenciando que existe uma divisão de funções de acordo com os sexos, uma hierarquização das funções também de acordo com sexo, e que além de tudo existe um processo ideológico e cultural que faz com que as pessoas se acostumem e até legitimem essa divisão que geralmente é baseada em estereótipos de feminilidade frágil. Mas acima de tudo, é importante ressaltar que o sistema econômico em que estamos inseridos (sistema capitalista) se beneficia de toda essa construção social que insere as mulheres é atividades que são consideradas culturalmente inferiores, por que isso permite que as mulheres continuem recebendo 30% a menos que os homens, e que capitalistas possam aumentar sua obtenção de mais-valia com a contratação de mulheres.
Além disso, é necessário para a própria sobrevivência do capitalismo a divisão entre homens e mulheres. Pense na casa de um trabalhador: ele trabalha várias horas do dia, quando chega em casa precisa de ter a comida, roupa lavada, casa limpa, e alguém que cuide dos filhos, caso contrário ele não pode retornar ao trabalho. Quem faz este serviço? A empresa que ele trabalha? Não. É sua esposa, sua mãe, sua filha que faz todo este trabalho doméstico e não recebe, ou seja, o trabalho doméstico é um trabalho invisível, mas que serve muito ao capitalismo.
Para terminar, pense em alguns homens que conhece (seu pai, avô, irmão, tio, etc) e pense no que eles trabalham atualmente. Agora pense em algumas mulheres que conhece (sua mãe, avó, irmã, tia, etc) e pense no que elas trabalham atualmente. Quais diferenças você percebe?
Bruna gayozo; William Scolari
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