ESTAMOS TODOS NO MESMO BARCO?
Em meio a uma Pandemia global vimos o que não imaginaríamos ver nunca, vimos pessoas desmerecer e questionar a ciência, colocar suas liberdades individuais acima da saúde pública, pessoas romantizar a pandemia como um momento de crescimento pessoal e outras defenderem que estamos no mesmo barco.
E se há uma coisa que nos foi comprovados nesses dias tão sombrios, é que não estamos no mesmo barco. A maioria de nós está em uma jangada vendo iates de luxo passar, e outros nem barco tem. Essa metáfora significa que o isolamento social por conta da Covid-19 tornou algumas das feridas que já tínhamos mais profundas e mais claras. Trouxe luz sobre a desigualdade social gritante que há no Brasil e mostrou qual é o papel, ou pelo menos, qual deveria ser o papel do Estado em situações de crise.
O vírus da Covid-19 só chegou ao Brasil com a agilidade que chegou por conta da globalização e das viagens de avião da elite brasileira, e mesmo tendo infectado a princípio membros da burguesia quem morreu primeiro foi uma empregada doméstica. E quem continua morrendo é a classe trabalhadora.
Seguimos morrendo todo dia, seja por coronavirus, seja por fome, seja por descaso do governo e das elites que estão por trás dele. Como nenhuma opressão vem sozinha, a pandemia mostra também que as lutas não são fragmentadas, mas que alguns grupos sociais sofrem os impactos da desigualdade social de maneiras diferentes, mais intensas e mais frequentes.
Ser trabalhador no Brasil é muito difícil, ser trabalhador, pobre, negro, mulher ou LGBTQI+ é ainda mais difícil. Isso significa que na medida em que algumas pessoas estão inseridos nesses segmentos desprezados e oprimidos da população, são todos passíveis do desinteresse e da falta de políticas públicas do Estado.
Durante o isolamento a elite brasileira tem se mantido em segurança em casa, recebido sua alimentação pelos aplicativos de delivery e usado a internet e outras ferramentas para se distrair, enquanto a classe trabalhadora em sua maioria não conseguiu parar, continua produzindo e entregando a alimentação e outra infinidade de produtos para a elite no conforto de seus lares, se submetendo ao vírus em transportes públicos lotados e colocando a si e suas famílias em risco.
Dizer que estamos no mesmo barco é um devaneio ou uma piada sádica. Estamos todos no mesmo mar, de medo e caos, mas as condições para o enfrentamento deste momento são totalmente diferentes.
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